domingo, 5 de abril de 2009

Epifanias . Fragmento XVI



Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:

Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado,
alimentando beija-flores que, depois de prová-lo,
transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe,
em direção à estrela Veja.
Levam junto quem me ama, me levam junto também.
Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo,
sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada,
figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua,
ruína, simulacro, varinha de incenso.
Acesa, aceso - vasto, vivo:
meu CORAÇÃO é TEU...

Caio Fernando Abreu
Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

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