segunda-feira, 21 de julho de 2008

Percorrendo a inexpressão



O grito ficou preso e a explosão se esvaziou em prece de murmúrios lamentosos... Inaudíveis. A imensidão da tristeza, interior demais, não se expressa, sem primeiro desfazer a dimensão abstrata e vazia. Um grito é só um som. Um vocativo solto. Uma onomatopéia ridícula de quase animal. É preciso liquefazer a densidade do sentimento para exprimi-lo. Uma dor imensa em excesso não se exprime. É muda. É paralisante.
Ela provoca cegueira, enrijece e entorpece os canais que a fazem ser comunicada.
Uma dor pungente consome como fogo, e só na sua matéria de cinzas consegue ser expulsa de nós. Ela tem a etapa de arder com a força das altas labaredas, depois arrefece lentamente nas brasas ainda rubras, para finalmente ir passando às fagulhas leves, provocadoras da derradeira fase, a das cinzas puras, ainda mornas e meio consistentes, que enfim o vento leva...
Em meio à dor que aperta a garganta com dedos de aço, é preciso esperar, no tempo. Para depois, delas sair na fênix da linguagem...

Dora Vilela

Paulo Braccini
enfim, é o que tem pra hoje...

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