segunda-feira, 12 de maio de 2008

Carta de Fernanda Young . Ao Órgão Responsável


Caro Pênis

Tenho notado você olhando torto para mim. Às vezes, basta eu chegar e você se levanta. Por acaso, você tem algum problema pendente comigo?
O fato de nós estarmos em lados opostos não nos faz inimigos. Ao contrário, guardo um espaço especial para você, dentro de mim, e seria ótimo se pudéssemos nos unir em prol de algumas novas conquistas. Os atritos, como em qualquer relação, são normais e bem-vindos.
Você me acusa de ser difícil, mas não conheço personalidade mais instável que a sua. Quando eu quero conversar, você se recolhe. Quando canso de tentar, você se anima. Quando finalmente penso entender aonde você quer chegar, você se coloca numa posição diferente.
Sei que a vida talvez lhe pareça mais dura, já que é de você que são cobrados rendimento e desempenho. Mas o mundo não gira em torno da sua existência como você pensa. Diria até que, nas horas mais tensas, você sempre dá um jeito de ficar de fora. Até no momento em que sua participação se faz necessária, a continuidade da espécie, você se limita a entrar com metade da matéria-prima e deixa o resto para lá.
Dizem que eu tenho inveja de você – mas inveja de quê, afinal? Você, desculpe, está longe de ser bonito. Trabalha num ramo de atividade sem o mínimo de charme: a remoção de detritos. Mora num lugar abafado, onde o sol nunca bate. Freqüenta locais escuros, de reputação duvidosa, em busca de um tipo de divertimento que já se encontra à mão, em sua própria casa. E aquele seu melhor amigo, convenhamos, é um saco.
Mesmo assim, quero frisar, tenho por você imensa consideração e simpatia. Mais que isso – sempre busquei a sua aprovação de alguma forma, atrás de sinais de que estaria agradando. Você, por sua vez, nem sequer disfarça seu completo egocentrismo. Fazendo-se de sonso e sumido, após satisfazer as suas necessidades.
Você se diz sensível, porém jamais se preocupa com o que o outro está sentindo. Quer apenas ocupar seu espaço e atingir as suas mesmas velhas metas de crescimento. Deveria tentar aumentar suas expectativas, ampliar seus horizontes, investir na sua cultura. Qual foi a última vez que você viu um filme decente?
Sei que dificilmente vou conseguir abalar sua enorme auto-estima, mas, sob meu ponto de vista, você não passa de um solitário, perdido em sonhos impossíveis e cercado por uma situação bastante enrolada. Acha-se o máximo, superextrovertido e revela-se um bobo alegre com pinta de seboso. Um cabisbaixo carente, o tempo todo em busca de qualquer carinho.
Disponho-me a ajudá-lo, colega, caso você reconheça seus defeitos e fraquezas. Posso até te indicar um bom analista. Somente recuso-me a continuar a ser cúmplice na perpetuação de um equívoco.
Você não é melhor que ninguém, temos o mesmo tamanho nesta história – de fato, se você cabe em mim, sou necessariamente maior que você.

Fernanda Young é escritora, roteirista e apresentadora de TV.




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Paulo Braccini

enfim, é o que tem pra hoje...

Um comentário:

então! obrigado pela visita e apareça mais, sempre teremos emoções para partilhar.

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